Essa newsletter que acabou de ser lançada já tirou uns dias de pausa por um motivo muito especial: uma viagem de férias para o Japão.
Além da realização de um sonho, foi a minha primeira viagem para a Ásia e contato com uma cultura tão diferente da nossa. Além da delícia que é passear os dias só passeando e comendo, pra mim uma das maiores riqueza de viajar é observar o que as pessoas fazem e como vivem a rotina. Mais que nos locais mais famosos da cidade, é em lugares como o metrô e o mercado que a gente consegue descobrir pequenos aspectos que são pistas de como um povo pensa. Falar sobre cultura é entender quais são os costumes e crenças de uma população e é nas ações diárias que a gente consegue entender como essas concepções acontecem na prática.
Além disso, uma das formas que usamos para entender outros culturas é na comparação com a nossa. É possível entender como a cultura do Japão é diferente nas situações que eles se comportam de um jeito distinto de como nos comportamos no Brasil. Na comparação a gente entende porque fazemos as coisas do jeito que fazemos e vai entendendo mais sobre nós e sobre os outros.
Há algum tempo a trend de ir em mercados em viagem estava em alta. E visitar mercados é tão legal porque as compras do dia a dia falam sobre o nosso jeito de comer e lidar com a casa. Nesse vídeo abaixo, só de ver as maquinas de reciclagem e você ter que fatiar o próprio pão, já dá pra ver diferenças culturais para o Brasil.
Antes de comentar sobre as diferenças, queria trazer uma sensação que fiquei, de que o Japão é muito diferente, mas ele não é outro mundo. Sob os efeitos anabolizados da globalização atual, é curioso ver muito dos objetos e marcas desejos são os mesmos na maior parte do mundo. Em alguns lugares que passei, tirando os detalhes que fazem a identidade local, eu senti que poderia estar em Nova York ou Londres e estaria vendo as mesmas coisas.
Acho que além da globalização e homogeneização cultural que vivemos, outro aspecto que contribui para ess sensação é que o Japão (e principalmente Tóquio) RESPIRA consumo. Seja pelos comerciais exibidos em outdores animados enormes pela cidade, pelas lojas de luxo gigantes ou pelas pencas de turistas americanos famintos por gastar a moeda deles que está extremamente vantajosa por lá, a cidade te empurra a consumir o tempo inteiro.
Um item que para mim é um exemplo perfeito de como esse empuxo ao consumo não é algo acidental são as maquinas chamadas gacha-gacha ou gacha-po. São máquinas em que ao colocar moedas e girar uma alavanca, você retira uma cápsula contendo um brinquedo ou um boneco colecionável. Elas estão em todos os lugares e a graça dessas máquinas é que você não sabe o que ganhou até abrir a capsula e descobrir. É um mecanismo muito bem feito pois, além do efeito expectativa e surpresa, se você não retirou algo que tenha gostado, basta algumas moedinhas e você pode retirar outro. É fácil, baratinho e fofo. E viciante.
Só que claro que o Japão tem as suas particularidades e diversos aspectos que fazem ser uma das culturas mais apaixonantes do mundo. É um lugar único e cheio de personalidade.
O primeiro aspecto que me chamou a atenção é a sonoridade. Apesar das cidades serem em parte muito sileciosas, já que a maior parte dos carros é eletrico e fazem pouco barulho, quase ninguém buzina e ambientes como o metro serem muito sileciosos, a música e os sons são partes importantes da cultura e tudo é sonorizado. Um exemplo são os semaforos que emitem sons para avisar as pessoas com deficiencia visual que elas podem atravesar. Só que não é qualquer som, são pássaros. Outros exemplos são algumas privadas que você pode colocar sons para ambientar as suas necessidades e os outdoors eletronicos que quase todos têm áudio.
Um segundo aspecto que não parou de me supreender é em relação ao corpo e a roupa. Apesar de estar MUITO quente quase todos os dias que estivemos por lá, os japoneses estavam sempre com o corpo inteiro coberto. Mesmo com temperaturas em torno dos 28º, víamos as pessoas vestido calças, mangas compridas, casacos. Me parece que além de uma preocupação em evitar a exposição ao sol, exibir o corpo pode ser um tabu por lá.
Acho que isso é um dos maiores choques já que aqui no Brasil temos um culto ao corpo (principalemente àqueles dentro dos padrões) e mostrá-lo é visto como algo extremamente positivo. Mas vestir roupas compridas no calor também esbarra em outra questão que é essencial para nós brasileiros, que é a questão do cheiro. No calor nós usamos roupas mais curtas não apenas para mostrar o corpo, mas também porque não queremos suar e ficar com um cheiro ruim, algo visto com maus olhos por aqui. No Brasil, cheiro chega a ser questão de diferenciação social. Só que lá no Japão isso não é uma preocupação, já que os japoneses tem uma variação genética que faz com que eles não produzam o cheiro ruim do suor. Isso faz com que desodorante seja algo raríssimo por lá (crying in brazilian suor).
Mas a questão que me capturou completamente, e quando me perguntam o que mais me surpreendeu é sobre isso que eu falo, é a atenção aos detalhes. O Japão dá um banho quando o assunto é ~experiência do usuário: tudo é pensado e construído para quem for usar possa ter a melhor experiência possível. É algo que para uma brasileira que precisa estar sempre no modo alerta & esperta, traz uma sensação enorme de conforto. Eu fiquei a viagem toda praticamente jogando um jogo comigo mesma, de capturar esses detalhes que podem passar despercebidos, mas que fazem uma diferença essencial para quem usa e mostram essa preocupação em cuidar do que é feito para que seja o melhor para pessoas. Trouxe alguns exemplos que podem parecer tão simples, mas que transformam a sensação de quem usa em algo sem nenhum atrito:
Dentro do trem bala, todos os assentos tem um mapinha mostrando o vagão que você está e os próximos, para que você saiba onde é o banheiro e não precise perguntar para ninguém ou ficar zanzando pelos vagões para descobrir.
Boa parte dos banheiro contem esse objeto onde as mães podem deixar os seus filhos sentados enquanto fazem xixi. E eles são posicionados sempre em lugares que a criança fique de frente para a mãe, para que ela possa ficar olhando.
Os ônibus dão uma leve reclinada lateral para que os passageiros subam nas paradas. É uma descida bem leve, um detalhe minusculo, mas que faz diferença pra quem precisa subir no ônibus.
E por fim eles, os maiorais: os banheiro do projeto The Tokyo Toilet, que aparecem no filme Dias Perfeitos. Como que pode um banheiro público ser uma coisa tão linda, um exemplo belíssimo de design e funcionalidade.
Mas claro que qualquer lugar no mundo tem seus aspectos negativos e o Japão não poderia escapar. Uma das questões de maior fama da cultura japonesa é a cultura de trabalho intensa, com dedicação de muitas horas ao dia e que o trabalho se torna boa parte da sua identidade. Nesse perfil do Tik Tok, um usuário anonimo conta como é a rotina de um Salary Man, como são conhecidos os executivos que trabalham em grandes empresas corporativas. Um cotidiano bem exaustivo que faz com que seja MUITO comum ver muita gente dormindo no metrô.
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Tudo isso sem falar em todos as objetos-culturais-exportação dessa cultura japonesa que tá no hype: os mangás, os desenhos, o matchá, o lámen, o J-pop. Tem tanta coisa interessante que daria pra escrever algumas edições só falando do Japão. Mas mais do que mostrar porque o Japão é tão legal e porque to tão apaixonada por esse lugar, meu intuito com essa edição era falar sobre como enxergamos pistas da cultura no cotidiano e na vida comum. Observar como mais do que nos grandes monumentos ou lugares famosos, a cultura e o jeito como a gente pensa o mundo acontece no dia a dia, nos detalhes.
essa coisa do desodorante me deixa devastada, sério. a vida seria tão mais simples! você sentiu cansaço especificamente por ver tantas coisas diferentes disponíveis pra compra? uma amiga viajou para fora recentemente e comentou dessa fadiga específica, da infinidade de coisas pra comprar. parece exaustivo mesmo.
Descobri muitas coisas interessantes sobre esse lugar incrível que me cativa, como pode ficar ainda melhor.